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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O ar bucólico de Colonia. (foto: André)
 Dia 24 e 25 – 14 e 15/01/2012 Colonia e Montevideo

O Uruguai dá passos vagarosos. É uma população envelhecida e há uma porção de vantagens nisto — trânsito tranquilo, cordialidade mais à vista, gosto pela história, pela arquitetura, pela tradiçaõ. Mas, ao mesmo tempo, há também certo ar de decadência, é como se o país ainda não tivesse passado pela globalização e vivesse no século XX. Falta um pouco de vida nas cidades, mas talvez só seja a sensação de quem visita o país em um final de semana da alta temporada, em que parecem existir mais turistas que população local.

Colonia continua sendo a graça de sempre – é a terceira vez que eu e a Fran desembarcamos na cidade a partir de Buenos Aires. O artesanato é muito rico, está mais para a arte do que para a reprodução exaustiva das mesmas habilidades manuais. Os barzinhos e restaurantes esbanjam bom gosto e sabores. E o melhor: está estupidamente barato. Muito mais barato que na Argentina.
Um senhor caminha na cidade velha, em Montevideo. (foto: Fran)
Montevideo é o lugar para se comer a parrilla uruguaia, no Mercado del Puerto. Já sarado das cólicas, não tive dúvida de pedir o entrecot, que é o mesmo contrafilé sem osso do bife de chorizo, só que no Uruguai é mais macio. As carnes do restaurante Madero, de Curitiba, são importadas daqui, uma decisão sábia. O assador do mercado era um gordo, alto, com boina gaúcha, bombacha, bigode – se estivesse em um filme, iam achar clichê até demais —, mas o homem entendia das coisas.

Palácio Salvo, o prédio mais conhecido do Uruguai. (foto: Fran).
Em Montevideo, vimos o pôr do sol na rambla, comemos parrilla no mercado e em um ótimo bar, o Parada Sur. Andamos pelo Centro Velho, entramos clandestinamente do Teatro Solis e descansamos para a volta até o Brasil, mais dois dias de viagem.
 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


A ambulância que me aguardava em frente à pousada de Colônia, no Uruguai. (foto: Ge)

Dia 22 e 23 – 12 e 13/01/2012 Entrando no Uruguai

Os olhos estalados da pajé da tribo, alguém mentia, certamente. O dedo indicador, frenético, apontava a minha barriga. O prazer do médico, o gozo que justifica estudar horas a fio para aquele vestibular insano, é o da surra moralista. Todo médico sonha em dizer o que você pode e o que você não pode fazer – é a justificativa secreta da profissão. 

Depois de toda aquela entrada alucinada no Uruguai, eu, deitado na cama da Posada de las Flores; as meninas, em pé, na ponta da cama, me olhando assustadas; e uma ambulância me esperava na porta: mas não é uma constipação, uma simples prisão de ventre, doutora? E então a pajé, com os cabelos longos enrolados na cabeça tal qual um turbante, orgulhosamente grisalhos, ao lado do enfermeiro gordo de respiração profunda (um Sancho Pança que foi incapaz de tirar a minha pressão), pôde chegar ao orgasmo: é claro que não, de jeito nenhum. Isto é a dor de toda a porcariada que você comeu.

Fazia dois dias que estava com cólicas. Nunca tive problemas de prisão de ventre – muito pelo contrário, um Yakult sempre foi nitroglicerina pra mim. Os espasmos foram ficando mais freqüentes e, quando chegamos em Colônia, na dúvida, melhor ligar para o número do seguro saúde. Mas a dona da pousada insistiu, não, imagina, um ótimo serviço gratuito me aguardava. E então a velha feiticeira chegou. De ambulância.

Ela massageava a minha barriga com vigor e queria me desmentir: sente dor aqui? Não sentia, mas fiquei com medo de dizer não. Na minha cabeça: já estou curado, doutora. A mão entrava por debaixo da minha costela, o olho da inquisição chegava perto do meu rosto, um sussurro: aqui, também não sente dor? Seria quase um insulto dizer que não sentia nada, mas era a pura verdade. Está seguro? Não, não sinto, doutora.

Ela queria pegar um mentiroso, dizia pausadamente: estou apalpando a sua vesícula biliar, entendeu, e, o sorriso de quem venceu uma discussão, a sua vesícula biliar está inchada. Então a pergunta que os pagãos devem responder para a madre superiora: o que você comeu nos últimos dias? A verdade, a verdade verdadeira seria a dieta preferida do turista na Argentina: bife de chorizo do café da manhã ao jantar, com vinho ou cerveja. Dentro do carro, só pão, maionese e bolacha. As sobrancelhas erguidas: verduras? Disse baixinho, quase com medo de apanhar, não, doutora.

Tudo aquilo estava parecendo um delírio melodramático, a consulta dentro de uma novela mexicana, mas a velha não teve dúvidas de me apontar uma seringa. Buscopan na veia, alivia os espasmos, sabe. A Ge, lá fora, com prazer, tirava fotos da ambulância, a Fran de olhos fechados, só a Lili viu a velha e o Sancho Pança perderem a veia do dorso da minha mão direita e o leite vermelho entrar vagarosamente na seringa. Isto enfureceu a bruxa, que agora dizia que minhas veias eram feias porque eu não comia verduras. Feche a mão, com força. Só abri a minha mão quinze minutos depois – sob autorização negociada. A luva plástica estrangulava o meu punho. E os tapinhas para achar a veia vieram como tabefes.

Lili e Fran sentadas no Buque Bus (estava lotado!), observando o reflexo. (foto: Ge).
Os dois últimos dias tinham sido cansativos. No primeiro, a viagem no meio do nada, de Bariloche a Santa Rosa. Não tinha nem mato no horizonte para distrair a vista. E a chegada em Buenos Aires foi estressante como costuma ser, com quatro pistas entupidas de carros velozes, num quadriculado caótico de vias à esquerda e à direita. Sem passagem comprada, ficamos na lista de espera do Buque Bus, o serviço de balsa até o Uruguai e, durante as duas horas até a saída, passeamos pelo Porto Madero. Foi ali que a cólica aumentou. E aumentou mais com a grosseria do argentino idiota que não queria dizer para as meninas, até quinze minutos antes da saída da balsa, se poderíamos embarcar ou não. Depois de uma paciência infinita, a Fran corre para o estacionamento, onde aguardo com o carro ligado, e diz para eu entrar de qualquer jeito. Depois corremos para a aduana, mas, no final das escadas rolantes, argentinos dizem que precisamos pegar as passagens. Descemos tudo, corremos de novo, pega o papel, sobe escada rolante, corremos para a aduana, os uruguaios pedem pressa, nunca tive o passaporte carimbado tão rápido. Entramos com a balsa de motores ligados. Suspiro de alívio. Ofegantes, comemoramos, deu certo, xingamos mais uma vez o argentino, conseguimos entrar no Uruguai conforme o programado.

Dieta: pêssego, maçã, chá. Olha a minha cara de alegria. (foto: Lili).
 Pão? Não. Nem queijo, nem vinho, nem carne, nem bolacha, nem maionese. Agora você precisa de ameixa. Pêssego. Maçãs. Beterraba. Enfim, as coisas que eu como nos anos bissextos. Buscopan de oito em oito horas. Beba esta vaselina que não vai ser absorvida pelo seu estômago, de manhã e de noite. Durante quantos dias, doutora? Até o intestino funcionar novamente e aquele olhar de quem me considerava uma raça inferior.

domingo, 15 de janeiro de 2012


Lago Espelho. As partes mais claras são as cinzas do vulcão Puyehue. (Foto: André)

Dia 20 e 21 – 10 e 11/01/2012 Bariloche

Na saída de Esquel, durante o café da manhã, observávamos a chuva cair de mansinho lá fora, na grande parede de vidro do hotel Sol Del Sur. Os cafés da manhã da Argentina, em geral, são minguados, tímidos frente à fartura nababesca dos hotéis brasileiros, em especial os do nordeste. 

Maria fumaça que faz passeios turísticos em Esquel. (foto: Fran).
  A Fran, que gosta de observar minúcias mínimas microscópicas (sempre tive pena dos pintores de parede que tentaram trabalhar na nossa casa), viu, antes de todos, que algumas gotas de chuva não estavam caindo, mas flutuando, voando, subindo. Nieve! As montanhas ao redor, diferente do dia anterior, estavam nevadas, com açúcar de confeiteiro enfeitando os cumes. A Lili e a Ge, que nunca tinham visto, já vão poder dizer que viram flocos de neve. Tudo bem que eram uns quatro ou cinco flocos, mas neve é neve.

Limpando pela centésima vez o vidro do carro, mas a primeira vez de cavanhaque. (foto: Fran).
 Sempre em direção ao norte, o próximo destino da viagem foi Bariloche. No caminho, almoçamos em El Bolsón, que estava lotada por conta da feira de artesanato – uma das mais famosas da Argentina. El Bolsón é um dos redutos hippies remanescentes daqui e, também por conta disto, o artesanato floresceu. Eu e a Fran estivemos em El Bolsón em 2005 e tivemos uma imagem bem diferente – até porque não conseguimos ver a feira naquela ocasião. A impressão da nossa viagem anterior era a de El Bolsón quase uma cidade fantasma, sem vida, desinteressante. Desta vez, não, os restaurantes estavam cheios e tivemos de esperar para almoçar. Havia nevado também na cidade e as montanhas no entorno também estavam brancas. Não é um destino para mais de um dia, mas vale a pena conhecer a feira.

Procurando conchinhas no lago Chico. (foto: André)
No lago Nahuel Huapi (foto: André)
 Continuamos ao norte e chegamos a Bariloche. Para a nossa surpresa, a cidade está mais vazia que de costume, graças, ainda, às consequências da erupção do vulcão chileno Puyehue, no ano passado. Os turistas estão com receio de vir pra cá, depois de tantas imagens de destruição na televisão. Apesar disto, ainda que notássemos as cinzas, que parecem areia, em muitos lugares (sobretudo no acostamento das rodovias), Bariloche e arredores estão com vida novamente e as florestas que circundam o lago Nahuel Huapi estão verdes.

Bariloche mais esvaziada foi interessante para nós: ao contrário de outros lugares, conseguimos o hotel, a um bom preço, na primeira tentativa. Na verdade, ficamos em um apart hotel, uma excelente opção quando se viaja em quatro pessoas. O Rosas Amarillas fica de frente para o lago, tem uma sala grande (com dois sofás-cama de solteiro), uma cozinha funcional completa, um banheiro com hidro, um quarto de casal e Internet wi-fi - tá de bom tamanho, né? Saiu muito em conta – ainda mais porque fiz a janta nas duas noites em que passamos ali. Estava já com saudade dos meus risotos e da comida caseira.

Mais um risoto, por favor! (foto: Ge)
 No segundo dia em Bariloche, por indicação do Pedro, o simpático italiano dono do apart hotel, fizemos a Rota de los Siete Lagos, uma estrada que, passando por Villa La Angostura, chega até San Martin de Los Andes. Na volta, optamos pelo paso Córdoba, dentro de outro parque nacional, o Lanin. Digamos que agora nós nos empanturramos de lagos verdes, esmeralda, espelhos, enfim, já deu pra enjoar de lago verde. O passeio foi cansativo – o dia inteiro na estrada novamente, andando muito devagar e parando bastante para tirar fotografias – mas vale todo o esforço.

Um motor home (com uma lambreta!) segue para o Parque Nacional Los Alerces. (foto: Fran)
 Dia 19 - 09/01/2012 Parque Nacional Los Alerces

A cultura do camping ainda é muito forte na Argentina. Mochileiros, trailers, motor homes aparecem aqui com uma freqüência bem maior que no Brasil. Talvez a explicação seja simplesmente econômica – o desenvolvimento da economia brasileira impulsionou o mercado das pousadinhas e fez a indústria do camping praticamente desaparecer. Mas apostaria em outro motivo também: os parques nacionais argentinos são mais espetaculares que os nossos e mais bem servidos para quem gosta de acampar ao lado de uma fogueira – muitos deles, veja só, não têm répteis e isto significa ficar livres das cobras. 

Os alerces, árvores gigantes. (foto: André)
 Um dos parques espetaculares da Argentina fica próximo de Esquel – o parque nacional Los Alerces. Em segundo lugar entre os seres vivos mais antigos da terra (perde somente para seu arqui-rival, as sequóias norte-americanas), o alerce é uma árvore que cresce míseros cinco centímetros a cada 100 anos. As maiores, que estão no parque, são milenares e podem chegar a 60m de altura (um prédio de 20 andares), com diâmetro de 4m. Não bastasse o alerzal, o parque também oferece um conjunto de lagos verde esmeralda, estupidamente verdes, daqueles que parecem existir só no photoshop.

A ilha rodeada de lagos, onde fizemos nossa caminhada. Cor da água sem photoshop! (foto: André).
Mais um lago com águas verdes (foto: André)
E quem precisa? (foto: Fran)
 Passamos o dia fazendo caminhadas no parque e também acessando diversas enseadas, em estradinhas de rípio. O dia estava chuviscando (pudemos comprovar a eficiência das capas que compramos em Ushuaia), mas o sol apareceu quando deveria aparecer, na vista mais bonita do parque.
Pessoal triste com a visita ao parque. (foto: André)
 À tarde, conhecemos Trevelin, mais uma cidadezinha de colonização galesa na Argentina. Trevelin é famosa pelas casas de chá e a Fran não quis perder a oportunidade de jeito nenhum. Eu, já farto de comer pão dentro do carro e longe de ser um fanático por doces, não aproveitei muito, mas as tortas de frutas silvestres típicas da região fizeram sucesso entre as meninas.

À noite, num barzinho indicado pelo recepcionista do hotel, comemos nosso bife de chorizo do dia no Cheers, um resto bar ótimo de Esquel.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


Dia 17 e 18 - 07 e 08/01/2012 Testando limites

Ovelhas na estrada: um dos muitos contratempos em dois dias lazarentos de viagem. (foto: Ge)

 Uma diferença entre viajar de carro e de avião é que a volta não está programada para um dia, mas para vários – em um tiro longo, voltar também pode significar testar limites de resistência. 

No roteiro original, a pedreira mais complicada de toda a viagem estava reservada para os dias 7 e 8 de janeiro, cada um deles com cerca de 950km. São dias inteiros dentro do carro – é cansativo, às vezes monótono, e quase sempre abastecido por comida ruim – bolacha, sanduíche, torradas, só porcaria. Você sente saudades de usar um garfo e uma faca.

Até aí tudo bem, cansativo já estava previsto. Mas o que passamos não estava previsto. Depois de finalmente conhecer a estrada de acesso a Ushuaia (na ida, estávamos com pouca luz e não foi possível admirar as florestas, lagos e montanhas nevadas que circundam as cercanias da cidade), voltamos para o pesadelo das aduanas. Estava pior do que na ida, com mais filas intermináveis e mais burocracia inútil. Para aporrinhar mais, tivemos de esperar 500 ovelhas atravessarem a estrada (as meninas acharam isto bonitinho), manobradas por cães pastores e dois gaúchos fueguinos. Isto tudo fez com que só chegássemos em Puerto San Julián quase 2h da manhã. 17h de chão vencido (pelo menos 6h disto em malditas aduanas). E, no dia seguinte, ainda precisaríamos de mais 950km.

Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Fran)
 O que não esperávamos é que San Julián, tão aprazível e hospitaleira na ida, estivesse lotada – isto não seria difícil, uma vez que é um vilarejo minúsculo. Nossa primeira tentativa foi o Hotel Bahia, o mesmo da ida. Nada. E o gerente ainda nos alertou que provavelmente não conseguiríamos vaga na cidade. Não tínhamos fôlego, disposição, vontade pra mais tempo na estrada, para buscar hotel em outra localidade.

Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Ge)
Começamos então a peregrinação dos hotéis. Vários deles já com o cartaz na porta, “completo”. Outros, depois de tocarmos uma campainha, um senhor muito mal humorado, recém acordado às 2h30 da manhã, vinha nos dizer que não havia mais quartos. E agora? Depois de rodar pelos quatro cantos, ou melhor, pela única avenida principal de San Julián, decidimos que “dormiríamos” no carro. O mais seguro, talvez, fosse deixar no posto de gasolina 24h. Chegamos ao YPF e o frentista, “claro que podem, fiquem com os demais carros”. O estacionamento do posto estava com mais 10 hotéis motorizados improvisados, argentinos e chilenos, famílias, casais, motoristas solitários estavam “dormindo” ali.

A luz do posto era forte e, com a prática da gambiarra, duas cortinas: o pára-sol do carro e uma canga de estampa indiana da Ge, que foi estendida em uma das laterais do carro – só faltou o frango com farofa. Eu, mais alto, fiquei no banco do passageiro e, atrás de mim, a Ge, espremida como um casulo, as duas pernas no banco, uma capa cobrindo tudo, tentava cochilar. A Fran, que ficou no banco do motorista, não se acomodava com a direção, virava de um lado e de outro, nada, saiu várias vezes para esticar as pernas doloridas, que formigavam. Já a Lili, bem, a Lili, mesmo com os nossos sons de abre e fecha porta, mesmo com o barulho infernal da minha capa de nylon, mesmo com o assobio assustador dos pombos da garagem ao lado, dormia com a boca aberta e já babava há tempos.

Às seis da manhã (o sol havia nascido às 4h), todos já devidamente alongados, partimos para Esquel. Foi uma viagem dura, cansativa, lazarenta, com um vento lateral ainda pior do que nos dias anteriores. As rajadas eram de tal magnitude que fiquei preocupado com o equilíbrio do carro com o bagageiro de teto (motoqueiros brasileiros haviam dito que viram jipes capotarem em Puerto Madryn por conta do vento) e preferi sentar no lado que recebia o vento para equilibrar a estabilidade. Diminuíamos a velocidade, víamos bolas de feno passarem à nossa frente como nos filmes de faroeste, apreensão. Não nos desesperamos porque não tínhamos forças para isto. Nem tempo.

Chegamos próximo das 20h em Esquel, fedidos, gordurentos, empoeirados. Quando o destino da viagem estava próximo, como sempre acontece, o GPS mostrou uma bandeirinha quadriculada e fizemos um coro animado e alucinado, “bandeirinha, bandeirinha, bandeirinha!”. Batemos palmas, give me five, risadas lunáticas. Mais um pouco nos internavam.

Felizmente, Esquel é uma graça, barata, achamos um ótimo hotel fácil, boa comida e desmaiamos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O canal Beagle, em frente a Ushuaia (foto: André)


Dia 16 06/01/2012 Fogo na Terra do Fogo

Para fechar a nossa aventura na Terra do Fogo e começar a volta, ainda faltava um último passeio obrigatório: fazer a jornada de barco por outro atrativo mítico, mais uma das reentrâncias da Patagônia que Darwin explorou, o canal Beagle.

Vista de Ushuaia a partir do mar (foto: André)
 A saída do porto é confusa, ninguém, nem o capitão, sabe qual é o barco que vamos embarcar – as trocas acontecem até a última hora, de acordo com a procura dos turistas, que aqui são como manadas. Optamos pela rota mais curta, que abre mão dos pinguins (que já vimos até a indigestão), ainda assim um passeio de quase 3h de duração.

Loberia do canal Beagle (foto: André)


Ilha de pássaros do canal Beagle (foto: André)

O porto está logo em frente ao centro da cidade e a saída já nos presenteia com uma vista privilegiada de Ushuaia. E, em pouco tempo, já podemos avistar a loberia e a ilha dos pássaros – os dois destinos principais. O catamarã tem três andares e fizemos quase todo o passeio no deck da cobertura, com o vento gelado queimando o rosto. Ninguém enjoou, mas a Fran, depois da overdose de Dramin, dormiu na chegada até o porto.

Ge no deck do catamarã que faz o passeio do canal Beagle (foto: André)

Terra do Fogo, diz a história, é o nome de batismo que Fernão de Magalhães imprimiu ao lugar em que se avistavam os índios Yamanás (hoje. completamente dizimados) acendendo fogueiras para se aquecer e cozinhar. Mas se bebia muito vinho a bordo das naus espanholas e portuguesas e esta poderia ser a terra do pileque, terra do pifão ou a terra da borracheira. Nosso compromisso de último dia por estas paragens, foi para tomar um fogo na terra do fogo. E, para a empreitada, escolhemos bem – um restaurante bem tradicional de Ushuaia, o Tia Elvira. A logo da entrada tem uma centolla e, dentro, uma outra (empalhada?) em tamanho natural dá a dica de qual é o prato principal. Pedimos Centolla (que estava boa) e, depois, uma nova descoberta – a merluza negra, o bife de chorizo dos pescados. É um filé alto, de uns 2,5cm, amanteigado e que estava divinamente grelhado. Para o pifão, dois vinhos da bodega Fin Del Mundo, que tem nos acompanhado na viagem. 

Merluza Negra, o bife de chorizo dos pescados argentinos. (foto: André)