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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012


Dia 17 e 18 - 07 e 08/01/2012 Testando limites

Ovelhas na estrada: um dos muitos contratempos em dois dias lazarentos de viagem. (foto: Ge)

 Uma diferença entre viajar de carro e de avião é que a volta não está programada para um dia, mas para vários – em um tiro longo, voltar também pode significar testar limites de resistência. 

No roteiro original, a pedreira mais complicada de toda a viagem estava reservada para os dias 7 e 8 de janeiro, cada um deles com cerca de 950km. São dias inteiros dentro do carro – é cansativo, às vezes monótono, e quase sempre abastecido por comida ruim – bolacha, sanduíche, torradas, só porcaria. Você sente saudades de usar um garfo e uma faca.

Até aí tudo bem, cansativo já estava previsto. Mas o que passamos não estava previsto. Depois de finalmente conhecer a estrada de acesso a Ushuaia (na ida, estávamos com pouca luz e não foi possível admirar as florestas, lagos e montanhas nevadas que circundam as cercanias da cidade), voltamos para o pesadelo das aduanas. Estava pior do que na ida, com mais filas intermináveis e mais burocracia inútil. Para aporrinhar mais, tivemos de esperar 500 ovelhas atravessarem a estrada (as meninas acharam isto bonitinho), manobradas por cães pastores e dois gaúchos fueguinos. Isto tudo fez com que só chegássemos em Puerto San Julián quase 2h da manhã. 17h de chão vencido (pelo menos 6h disto em malditas aduanas). E, no dia seguinte, ainda precisaríamos de mais 950km.

Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Fran)
 O que não esperávamos é que San Julián, tão aprazível e hospitaleira na ida, estivesse lotada – isto não seria difícil, uma vez que é um vilarejo minúsculo. Nossa primeira tentativa foi o Hotel Bahia, o mesmo da ida. Nada. E o gerente ainda nos alertou que provavelmente não conseguiríamos vaga na cidade. Não tínhamos fôlego, disposição, vontade pra mais tempo na estrada, para buscar hotel em outra localidade.

Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Ge)
Começamos então a peregrinação dos hotéis. Vários deles já com o cartaz na porta, “completo”. Outros, depois de tocarmos uma campainha, um senhor muito mal humorado, recém acordado às 2h30 da manhã, vinha nos dizer que não havia mais quartos. E agora? Depois de rodar pelos quatro cantos, ou melhor, pela única avenida principal de San Julián, decidimos que “dormiríamos” no carro. O mais seguro, talvez, fosse deixar no posto de gasolina 24h. Chegamos ao YPF e o frentista, “claro que podem, fiquem com os demais carros”. O estacionamento do posto estava com mais 10 hotéis motorizados improvisados, argentinos e chilenos, famílias, casais, motoristas solitários estavam “dormindo” ali.

A luz do posto era forte e, com a prática da gambiarra, duas cortinas: o pára-sol do carro e uma canga de estampa indiana da Ge, que foi estendida em uma das laterais do carro – só faltou o frango com farofa. Eu, mais alto, fiquei no banco do passageiro e, atrás de mim, a Ge, espremida como um casulo, as duas pernas no banco, uma capa cobrindo tudo, tentava cochilar. A Fran, que ficou no banco do motorista, não se acomodava com a direção, virava de um lado e de outro, nada, saiu várias vezes para esticar as pernas doloridas, que formigavam. Já a Lili, bem, a Lili, mesmo com os nossos sons de abre e fecha porta, mesmo com o barulho infernal da minha capa de nylon, mesmo com o assobio assustador dos pombos da garagem ao lado, dormia com a boca aberta e já babava há tempos.

Às seis da manhã (o sol havia nascido às 4h), todos já devidamente alongados, partimos para Esquel. Foi uma viagem dura, cansativa, lazarenta, com um vento lateral ainda pior do que nos dias anteriores. As rajadas eram de tal magnitude que fiquei preocupado com o equilíbrio do carro com o bagageiro de teto (motoqueiros brasileiros haviam dito que viram jipes capotarem em Puerto Madryn por conta do vento) e preferi sentar no lado que recebia o vento para equilibrar a estabilidade. Diminuíamos a velocidade, víamos bolas de feno passarem à nossa frente como nos filmes de faroeste, apreensão. Não nos desesperamos porque não tínhamos forças para isto. Nem tempo.

Chegamos próximo das 20h em Esquel, fedidos, gordurentos, empoeirados. Quando o destino da viagem estava próximo, como sempre acontece, o GPS mostrou uma bandeirinha quadriculada e fizemos um coro animado e alucinado, “bandeirinha, bandeirinha, bandeirinha!”. Batemos palmas, give me five, risadas lunáticas. Mais um pouco nos internavam.

Felizmente, Esquel é uma graça, barata, achamos um ótimo hotel fácil, boa comida e desmaiamos.

4 comentários:

  1. André e Fran!
    que delícia! mesmo com imprevistos!
    tamos na praia! agora meu pai arranjou uma internet que funciona, heheheh!
    ele quer saber quando vcs voltam! e o joão avisa que comprou 15 garrafas de vinho em puerto iguazu e quer beber algumas com vcs!
    beeeeijo! e feliz 2012!

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    1. Aninha, salve!

      Estamos no Uruguai, em Colônia. Amanhã Montevideo, depois Santa Cruz, depois Curitiba - estamos terminando. Claro que vou querer algumas destas garrafas do João (ahá!), mas por enquanto estou me recuperando de uma indigestão - está tudo bem, depois conto tudo.
      Beijos,
      André e Fran

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  2. André, viva!
    Fotos, como sempre, sensacionais!
    Agora precisam voltar logo pra contar em detalhes, aqui na nova varanda de Caravelas!
    Abração, bom retorno!
    Tovo

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    1. Tio Tovo, salve!

      Daqui alguns dias já estaremos na nova varanda da praia, nos aguardem! Abração e até breve,
      André

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