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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Dia 15 – Tio da Sukita

08/01 – Caleta Tortel-Villa O’Higgins


Na saída de Caleta Tortel, os perros nos acompanham novamente. Agora temos todo o cuidado do mundo. Pela frente, o final da Carretera, na mítica Villa O`Higgins.

Lili, versão Carretera Austral.


O caminho é todo de rípio novamente e a atração do dia é o rio Baker. Os nomes em inglês são comuns e descobrimos que, sim, houve colonização da rainha por aqui também, na virada do XIX para o XX.

Puerto Yungay, um braço do pacífico.


Chegamos em meia hora, aproximadamente, a Puerto Yungay, onde há um pequeno ferry-boat, gratuito, que atravessa um braço do pacífico. Cerca de três horas depois (uma de ferry, duas de estrada) estamos em Villa O’Higgins. Todos achamos estranhos que o ferry fosse gratuito e a explicação viria no final do dia. No ferry, o capitão se engraçou com as ticas, em especial a Fran – é o tio da Sukita da viagem. E, ali na balsa, também conhecemos Daniel, um sociólogo da UFRR – Universidade Federal de Roraima – que dá aula para índios em Boa Vista.

Tio da Sukita.


Modelito burca, depois do tio da Sukita.
Casinha típica de Villa O`Higgins. Ache o gato. E a senhora que nos observa.
Escada para o mirador da cidade.


Villa O’Higgins é o final (ou quase o final) da Carretera. A estrada só chegou na cidade no final dos anos 90. E o pequeno povoado é dos anos 60. Há bandeiras chilenas em praticamente todas as casas – o que também é estranho: no quesito patriotismo, é mais comum ver um cenário assim na Argentina, mas não tanto no Chile. Detalhe: O’Higgins é o herói da independência chilena – o Dom Pedro II deles.

Abastecemos no Copec da cidade e buscamos informações sobre a viagem até o glaciar O’Higgins que fica aqui perto. E aí descobrimos que partidas só irão sair daqui dois dias – desde que existam condições climáticas para o barco zarpar. Com esta informação, planejamos tudo de volta, as fotos do glaciar são impressionantes e decidimos que vale a pena ficar por aqui.

Vista de Villa O`Higgins.


Mais uma vez, estamos em cabañas – desta vez na do El Mosko, excelente. E a dona, Fili, como sempre aconteceu antes, nos atende super bem. E é com ela que começamos a descobrir o segredo de Villa O’Higgins.

Pessoal no final da trilha do mirador.


A colonização foi uma decisão do Estado – marcar território, para demarcar a fronteira. Ainda hoje, há zonas cinzentas do que é Argentina e do que é Chile no extremos sul do continente. Nos mapas chilenos, há quadrados com asteriscos, que indicam que ali ainda não se sabe bem qual é a fronteira (o que não acontece com os mapas argentinos) e povoar esta região do país se tornou uma questão de soberania nacional.


Ok, os colonizadores vieram, mas para fazer o quê? Há comércio, uma indústria de turismo ainda insipiente (e provavelmente continuará insipiente – o inverno nesta região da patagônia é terrível e não mais do que dois meses são a alta temporada), os dois postos de gasolina. E o resto é o Estado. A maior parte da população da cidade são funcionários públicos – trabalham para a prefeitura. Recebem um soldo (engraçado a artesã da cidade que nos deu esta informação usar a palavra soldo – um vocabulário militar) e ficam aqui. Para fazer o quê? A artesã explica que para quase nada – abrem caminhos que vão do nada a lugar nenhum. Você anda pelo povoado e, fora os comerciantes, ninguém está trabalhando – não há ninguém nas ruas. Em outras palavras, o governo paga cerca de 500 pessoas para que elas não façam porra nenhuma. Ou melhor: elas fazem, elas ficam aqui. Villa O’Higgins é linda – está num vale circundado por montanhas nevadas, algo que fica espetacular quando você sobe em um dos miradores. Mas é muito isolada – morar aqui não é moleza. No mercado, as frutas e verduras vêm uma vez por semana – e são disputadas como ouro. Não há muito o que se fazer do ponto de vista econômico. Por tudo isto, é um lugar mágico, mágico como uma Macondo patagônica, um tom meio onírico de vento, neve e montanhas.

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