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domingo, 28 de dezembro de 2014

Dia 1 Carretera Austral - Tempo e espaço

25/12/2014 Curitiba-Foz do Iguaçu

Noite mal-dormida, como sempre. Planejamento sem fim, como sempre. Sexta viagem andina. É a mesma tripulação de 2012, também para a Patagônia. Suerte nossa.

A G chegou às 7h da manhã em casa e depois passamos para pegar a Lili, já em Large Field. A estrada estava tranquila, eu e a Fran trocamos várias vezes no volante, chegamos no final da tarde em Foz do Iguaçu. A Bruna emprestou a casa na Vila B e, antes da janta, deu tempo de passar na minha casa de infância, na Vila A.

Depois de 30 anos, a vila está de novo na minha frente. É como se ela entrasse no mundo de Guliver – aos olhos da criança, tudo era grande. O quintal era grande. A praça era grande. Na ladeira, a bicicleta sofria para chegar ao fim e o carrinho de rolimã descia sem medo. Agora tudo é miniatura – até o limite da vila, onde eu comprava os chicletes Ping Pong das figurinhas com os jogadores da Copa do Mundo de 82, ficou pertinho.  O muro, que o tio Tovo pulava de uma vez para impressionar todos nós (todos nós, meninos e a Tica, que precisávamos escalar para conquistá-lo), agora é um tímido amontoado de concreto, que não impressiona mais ninguém.

Pinheiro que a mãe plantou na casa de Foz

Não é só uma questão de espaço. É uma questão de tempo também. No parquinho, só havia mistura de mato com arbusto. Agora, as mudas, que a memória da infância não guardou, trouxeram um outro bosque – além dos bosques do início e do final da rua. E o pequeno pinheiro que a mãe plantou, no quintalzinho da casa em que eu e a Tica brincávamos de Playmobil, virou uma senhora árvore de uns 15 metros, pelo menos.

Casa de Foz. Agora com arame farpado.

As casas já não são todas de madeira escura. Muitos construíram uma casa de alvenaria no lugar. Outros trocaram as madeiras. Na nossa casa, já não é mais a mesma arquitetura, há um anexo na garagem onde o pai preparava o bagageiro de teto da brasília, há uma lajota em frente à porta da frente, é difícil reconhecer a casa da memória. Mas o ar bucólico da vila permaneceu, ainda parece o paraíso da infância – mas, diferente da nossa época, não há mais uma criança na rua. E cerca elétrica em muitas casas. Na nossa, um arame farpado circunda todo o terreno.

O parquinho na frente da casa: agora com árvores.

Contornamos a vila para chegar na área de lanchonetes próxima do centro – no caminho, passamos pela construção onde era a Cobal, o supermercado, e agora uma carcaça abandonada. Jantamos, voltamos para a vila B e, antes de tomar banho, vejo o aquecedor de passagem da minha infância (um grande barril branco, suspenso no teto) e os taquinhos de madeira que também estavam no nosso chão.


Desmaiamos. Noite mal dormida não perdoa.

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