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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dia 2 – Los Assassinos de Sapos

26/12/2014 Foz do Iguaçu – Santa Fé

Desde o planejamento da viagem, nós sabíamos que este seria o pior dia, com mais de asfixiantes 1000km pela frente. Há sempre um (ou mais de um) dia de perrengue neste tipo de viagem. Normalmente fica no começo, perto do Brasil, porque não há muito para se ver. Mas há outros detalhes que complicam as coisas no início: é uma região tropical e úmida que, no verão, chove torrencialmente. É também uma região famosa por guardas corruptos. E, finalmente, é uma região sem estradas muito vazias – a proximidade com Foz e Buenos Aires faz com que o trânsito seja bastante diferente da Patagônia, por exemplo. Nesta viagem, nós tivemos que enfrentar tudo isto. E mais um pouco.

Eba!

O dia começou com uma reunião do conselho. Esperar ou não esperar as casas de câmbio de Foz abrirem. Se esperássemos, sairíamos mais tarde e chegaríamos à noite em Santa Fé – porém, conseguiríamos um câmbio bem mais em conta. Há uma diferença absurda entre o câmbio oficial (que só o governo argentino e o seu cartão de crédito aceitam) e o câmbio no paralelo. O bolso pesou na decisão, mas a decisão foi acertada – o câmbio oficial (peso/real) está em 0,31. Nas casas de câmbio de Curitiba, com cartão travel card, sairia 0,38, mais IOF, um roubo. Nós compramos por 0,23. Eu, que tinha dólares comprados antes da eleição, consegui excepcionais 0,19.  Não é nada não é nada, mas a viagem fica 30% mais barata, no mínimo. Só teve um porém – a casa de câmbio, a única que achamos aberta no dia 26, em Foz, nos passou três notas de 100 pesos falsas. Mas estamos tão escolados e diplomados em viagem na Argentina que já sabemos identificar até nota falsa – eu tenho uma na carteira (que recebi na fronteira de Barracão e um restaurante de Humahuaca se recusou a aceitar) justamente para comparar com o que nos entregam. O funcionário da casa de câmbio trocou as notas falsas sem reclamar, em um silêncio constrangedor – não se deu nem ao trabalho de fazer um teatro de, puxa vida, é falsa? Que horror, né? Obviamente, sabia que estava nos entregando dinheiro podre.

Mas o que é bom (dinheiro barato, neste caso) tem seu preço. Chegamos às 11h da noite em Santa Fé. O trânsito, na estrada, estava relativamente tranquilo (se compararmos com a viagem da Patagônia, em 2012, estava estupidamente tranquilo) – mas, depois de comprar o câmbio, aguardamos, somadas as filas, mais de uma hora na aduana e no primeiro posto de gasolina da Argentina. Já era umas 10h da manhã quando começamos a viajar.

Ainda na província de Entre Rios, um guarda em um posto policial no meio do nada parou o nosso carro. A Fran estava dirigindo. Ele fez sinal para abrir o vidro. Perguntou se era a primeira vez na Argentina – é tipo uma pergunta teste pra saber se estamos cientes da legislação obrigatória (segundo triângulo, carta verde, cabo de reboque, luz acessa na rodovia). Não, moço, nós já sabemos identificar até nota de Peso falsa. Estão a passeio? Sim, vacaciones. O cara já tinha manjado que não havia nada de irregular e estava diante de profissionais. E, na cara dura, sem nenhum tipo de explicação, não tem nenhuma contribución para nosotros? A Fran deu 12 pesos – R$2,40. O sujeito aceitou e a Lili até ficou com pena – parecia mais um pedinte que um policial.

Até Posadas, tudo foi bem. Mas, cerca de 250 km antes de chegar em Paraná, já era noite e caiu uma tempestade dos infernos. Em todo o trecho, pequenos sapos, aos milhares, estavam saltitantes no asfalto – pontos brancos que brilhavam com a luz do farol e o reflexo da água da chuva. Neste dia, oficialmente, matamos centenas de projetos de anfíbios. Los assassinos de sapos.

Foi o dia também que a Fran testou o Oi Girl. Hã, como explicar o Oi Girl? Lembro do dia que liguei para a Acampar e perguntei para a atendente se eles tinham. A moça não sabia o que era e eu precisei, com constrangimento, explicar. Bem, moça, é um, hã, dispositivo (dispositivo?) de silicone que permite que a mulher faça xixi em pé. Ou, em bom português, um pinto de plástico que a mulher acopla na virilha – excelente para a hora do aperto em banheiro sujo de postos de gasolina. E, bem, como a Fran se saiu? Eu achei que alguma coisa tinha saído errado depois de ela demorar mais de meia hora no banheiro e ter entrado com uma saia e ter saído com uma bermuda. Creio que a coisa exige um certo treinamento – mas a Fran está confiante para as experiências futuras.

Chegada no hotel em Santa Fé.  A Fran já de bermuda.



Chegamos no hotel bem cansados. Mas amanhã tem só estrada boa até Mendoza. A paisagem melhorará bastante – vamos chegar nos Andes.

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