Páginas

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Dia 7 28/12/2011 Mergulho com lobos em Punta Loma

As pessoas que mais nos conhecem, ao longo da vida, são os nossos irmãos. Eles convivem mais tempo conosco do que cônjuges, filhos e pais. Isto pode ser especialmente útil em uma viagem, quando, por exemplo, alguém com dificuldade em acordar cedo precisa despertar. Chamo a Fran daqui, empurro dali, engrosso a voz para um “Francis Hellen Haisi está na hora!”. Nada, só a paz depois do dia da agonia – a descrição de Borges para a plenitude mansa do mar. A Lili, que convive com isto há 32 anos, só observa a minha incompetência. E diz com a autoridade e o verdadeiro prazer de anos de sacanagem caprichada que toda infância reserva entre os irmãos: coce o nariz dela. Eureca! Incrível descoberta! A viagem já valeu a pena.

Às 8h30, o Fernando (mais um guia Fernando – é o terceiro em nossas viagens) nos busca com sua caminhonete até o escritório da Abramar, uma das empresas que opera o mergulho em Punta Loma, a loberia próxima de Madryn. Nós já fizemos mergulho com snorquel antes, mas no Brasil, em águas quentes. Aqui, para fazer a mesma coisa, só com roupa de neoprene – a água aqui está mais para a temperatura da antártica do que dos trópicos.

Marinheiro de primeira viagem, me atrapalho todo com a tal roupa de neoprene, um macacão apertado, emborrachado, feito para água e que em terra significa aprender a andar de novo. Vou sem calção de banho por debaixo da bermuda, o que significou ter de entrar numa portinha de madeira, ficar de cueca, sozinho numa salinha escura, para a minha troca de roupa. Perdi a preciosa orientação da Natália, nossa instrutora do mergulho. Está do avesso? Está do lado certo? Socorro. Natália me passa um saco plástico, como é que é, demoro a entender: vista o pé, deslize as pernas na aspereza do neoprene. Macacão, jaqueta, bota, capuz – me sinto ridículo, mesmo na Sapucaí me sentiria ridículo. Último da turma, corro como pinguim para a praia, onde as três meninas poderosas me esperam há tempos.

Natália pilota a nossa lancha até a loberia.

O percurso de lancha até a loberia é rápido – em vinte minutos já avistamos os bichinhos. E de muito mais perto que na Península Valdés, onde todos os acessos são controlados – as passarelas não permitem uma aproximação muito grande com os animais. Recebemos as instruções da Natália. Podemos tocar nos bichos? Pode. Eles mordem? Sim, mas somente aquilo que a boca deles consegue dar conta – por isto, devemos ficar com as mãos fechadas, do contrário teremos um dedo decepado. Mas, peraí, eles são como lobos? São dóceis, normalmente somente as fêmeas e os filhotes se aproximam. Se acontecer de um macho aparecer, devemos não brincar com os animais.

Entramos na água. É fria – as mãos, desprotegidas, sentem antes. A Fran e a Lili, que estavam preocupadas, não sabem nadar, flutuam com a roupa de neoprene. Máscara, snorquel, respirar pela boca, pé de pato, fecha a mão – a Fran se atrapalha um pouco até entender a mecânica e, no aprendizado, quase afoga a Lili (atenção pais: elas sobreviveram). Cansa um pouco, temos que seguir a instrutora, bate pé de pato, tira a água que entrou no snorquel. E então ficamos 40 minutos esplêndidos no mar.

Natália nos ensina uma técnica – o focinho de um leão marinho é sensível ao toque. Com uma das mãos, fechadas, entretemos o focinho, com a outra, podemos acariciar o couro aveludado. Eles são curiosos, brincam como cachorros – se tivesse um pedaço de pau, ia pedir para buscar. É tão espetacular, tão inacreditável, tão diferente, que os 40 minutos passam como cinco. O passeio acaba e foi todo filmado e fotografado pela Natália (clique no clip acima para ter uma idéia do que passamos – somos nós que estamos no filme).

É só o sinal de OK dos mergulhadores. Ninguém está com raiva de mim, aparentemente.

 Voltamos para o hotel na hora do almoço e a Fran desmaia – o dramin para evitar o enjoo da lancha faz efeito três horas depois. Por sorte, a Fran não enjoou durante o passeio. À tarde, alugamos bicicletas e andamos por toda a orla de Madryn, até o Ecocentro, em um pôr do sol à altura do nosso dia.

Ecocentro, nosso destino do passeio de bicicleta.


2 comentários:

  1. André e Fran,
    Que bacana a experiência do mergulho. Estamos (Maria, Ernesto e Jamilsa) numa viagem andina também. Entramos por Inapari e chegamos a Cizco. Daqui vamos a San Pedro,Argentina e Uruguai... Boa viagem e descobertas, aguardamos os novos posts!
    Abraços do primo João

    ResponderExcluir
  2. Joaozinho, salve!

    Que legal - uma excelente viagem para vocês também! E um excelente 2012 para todos nós, merecemos. Beijos e abraços para toda a família, André e Fran.

    ResponderExcluir