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sábado, 14 de junho de 2014

Dia 1 – Curitiba – Barracão 600km
13/06/14

Adiantando tudo, correndo como loucos (a Fran ainda enfrentou um dia dos namorados na joana joaninha!), conseguimos sair um dia antes. Parece simples, mas só parece – depois de quatro viagens para os Andes, o nosso check list já passa dos 110 itens. Providencial sair antes: ao invés dos cansativos 1200km de Curitiba a Resistencia, que eu e a Fran já fizemos duas vezes, uma parada antes em Barracão – 600km a menos.

Na viagem, tudo normal: o Brasil continua sendo um lugar tenso e estressante para viajar de carro. Pista simples na maior parte do tempo – o que não é necessariamente um problema, mas acaba sendo quando a estrada é apinhada de caminhões e cheia de curvas. Um adicional: por conta das enchentes, parte da estrada entre Guarapuava e Pato Branco estava interditada e precisamos fazer um desvio em Mangueirinha, o que, com a meia pista e as esperas, nos custou pelo menos uma hora a mais na estrada. Quando que eu achei que iria conhecer Mangueirinha? Quando que alguém achou que ia conhecer Mangueirinha? É preciso uma tragédia na cidade vizinha para Mangueirinha comece a aparecer nos mapas. Em outras palavras: a cidade não existe.

Com o desvio, conhecemos uma das represas da Copel que, depois das chuvas intensas, estava com o vertedouro aberto – um espetáculo, uma força descomunal das águas. Como a estrada passa muito próxima do vertedouro (passa na parte de cima da barragem!), acaba sendo mais impactante que Itaipu.

Vertedouro da Copel


No final do dia, um imprevisto. Depois de mais de 500km de céu de brigadeiro, justamente ao anoitecer, uma tempestade de raios. E uma chuva com ventos fortes chegou nos últimos 40km da viagem. Sorte que já estávamos nos finalmentes, mas assusta, dá uma forcinha para o Red Bull funcionar melhor e chegarmos acordados no fim do dia.

Chegamos em Barracão às 19h – 9h para fazer 600km. Na Argentina, é fácil dar conta dos mesmos 600km em 6h. Chegamos no hotel e o recepcionista estava feliz com a vitória da Holanda sobre a Espanha – acachapantes 5X1! É placar de pelada de praia, não de Copa do Mundo.

Fran no quarto do hotel.


Finalmente, o quarto do hotel, o primeiro. E eu sempre me lembro daqueles quartos do Hopper, daqueles personagens tão sozinhos, tão livres, tão modernos. Impressão pessoal: Hopper é o grande pintor norte-americano. Warhol é meio óbvio pra mim, aquelas latas de Coca-Cola, a cultura do consumo escancarada – não sei, tenho certa implicância, parece que falta sutileza. Pollock tem beleza plástica incomparável, mas o que se diz parece que não se lê. Hopper é uma escolha mais conservadora, eu sei, mas, ainda assim, essencial: a América não é o sintoma do consumo nem a apologia da abstração. Em Hopper, a América é o sintoma do vazio, daquela solidão transcendente das escolhas individuais, o homem livre das tradições. O tema da viagem é um segundo plano constante em Hopper: o posto de gasolina, o hotel,  o café, o bar – as pessoas não moram, estão de passagem, estão em trânsito. Os vínculos são menos importantes que as escolhas.

Quarto de hotel - Hopper




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