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domingo, 25 de dezembro de 2011

Monumento Nacional à Bandeira

Pichação anarquista no Monumento Nacional à Bandeira

Dia 3 24/12/2011 Natal em Rosario

Teremos mais uma passageira a partir do dia 27. A amiga Geísa, o querido anjo cupido meu e da Fran, embarca na jornada a partir de Puerto Madryn. Viajar de carro com mais gente é sempre interessante: mais companhia (isto não é necessariamente bom, um mala estraga qualquer passeio, sorte que a Geísa é do bem), mais divisão dos gastos de pedágio e gasolina, sem contar que é um motorista a mais para o revezamento do volante, recurso imprescindível em um roteiro de mais de 10.000km. O único porém é o espaço – nosso bagageiro está no limite. A mala da Geísa vai caber, mas onde ficarão as comprichtas? Onde levaremos as nossas caixas de vinho e a muamba da zona franca de Ushuaia?

Nosso dia de descanso em Rosario começou com uma missão: resolver o problema da bagagem. Tínhamos duas opções: jogar fora as nossas roupas (usar a cueca mais vezes por semana vale mais a pena do que deixar de levar o vinho) ou comprar um bagageiro de teto. Ficamos com a segunda opção – até porque o bagageiro, assim como quase tudo por aqui, continua saindo mais barato que no Brasil. 

Com a indicação do dono do hotel, chegamos à loja Auto Deluxe. Era pra ser uma compra tranquila. Era. Mas o Fernando, proprietário, fez de tudo para que quase o mandássemos para a santa madre que o pariu. Sujeito confuso, jeito junk de lidar com as pessoas – fala rápida, muda de assunto, atende outro cliente, volta, muda o preço do que havia sido acertado antes, olho estatelado, embrutece quando dizemos que somos do Brasil (mesmo eu argumentando que a Fran torce para a Argentina – não menti), só nos restava a agonia e o cheiro da trapaça.

A operação de colocar o bagageiro no teto, que consiste em apertar quatro parafusos sem chave fenda, exigiu mais tempo e atenção do que lançar um ônibus espacial da Nasa. Mas, depois de muita enrolaração – perdemos a manhã – vencemos o sujeito. E saímos para curtir Rosario.

Assim como na nossa última viagem, Rosario nos surpreendeu positivamente. Não é um destino tradicional dos brasileiros, mas, ainda que não seja um local para passar muitos dias (no final das contas, é uma cidade não muito grande, de 1.200.000 habitantes), vale a pena conhecê-la. São muitos os atrativos: uma arquitetura art noveau remanescente do final do século XIX (quando a cidade era a maior produtora de grãos do mundo, o que acabou trazendo um crescimento explosivo para a região), uma importante zona portuária às margens do Rio Paraná, uma linda avenida costanera (a rambla de Rosario, com inúmeros bares e restaurantes com pescados típicos de rio), e duas ruas de pedestre com ótimo comércio (assim como as demais cidades argentinas, inclusive Buenos Aires, aqui não é o paraíso dos shoppings, mas o do mercado de rua).

Almoçamos no Carlitos, um ótimo restaurante na margem da costanera, em frente a uma prainha em que navios de porte cruzam o tempo todo e jovens musculosos sky-surfeiros (Sky-surf? É aquela prancha arrastada por uma pandorga gigante) se exibem para o  suspiro das mocinhas rosarinas. No Carlitos, experimentamos o Dourado e a Bodega (ambos peixes do rio Paraná) grelhados. Estava excelente, ainda mais com o molho caseiro de chimichurry que o acompanhou (e eis uma descoberta: chimichurry vai muitíssimo bem com peixe também!).

Depois do almoço, andamos pelo centro histórico e percorremos as escadarias do Monumento Nacional à Bandeira. O Monumento, ainda que seja elegante e de arquitetura bem resolvida, é um espaço mega patriótico e ultranacionalista, com dezenas de bandeiras argentinas perfiladas, uma pira acessa com os restos mortais do General Belgrano (o d. Pedro I da Argentina), vigilância de soldados do exército, enfim, o lugar perfeito para um inspirado anarquista desrespeitar a solenidade do mármore bruto e pichar em azul-bandeira-da-argentina “me cago en tu bandera”. Fechamos o passeio com uma caminhada nas ruas de pedestres, com direito ao primeiro sorvete hermano da temporada e a comprichtas para a floricultura da Fran e da Lili. Como o dia seguinte será puxado – mais 1.000km – resolvemos não sair para jantar uma ceia de Natal decente e optamos por comprar um x-salada do bar da esquina do hotel. Bem alimentados, sem festa natalina (o que, convenhamos, é ótimo), desmaiamos.

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