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domingo, 8 de janeiro de 2012


Perito Moreno, as Cataratas de gelo. (Foto: André).

 Dia 13 03/01/2012 Perito Moreno

Quando o clichê pode ser uma descrição perfeita: Perito Moreno, as Cataratas de gelo. Parte do Parque Nacional los Glaciares (assim como El Chaltén), o glaciar Perito Moreno é um colosso da natureza, desses que aparecem em reportagem especial do Globo Repórter ou nas figurinhas premiadas de chiclete de bola. São 30 km de comprimento, 5 km de largura e 60 m de altura de gelo bruto, um carpete monstruoso congelado – um isopor recortado a laser –, com cores que variam do branco mais branco do OMO ao azul fosforescente. Isto já seria suficiente para justificar uma viagem de 12.000km de carro até ali, mas Perito Moreno ainda tem mais: o glaciar, em constante movimento por conta de seu próprio peso, descama ininterruptamente na sua extremidade, num espetáculo visual (um prédio de 20 andares desabando) e auditivo (a explosão do choque dos blocos de gelo com a água). 

Os vários tons de azul do gelo. (foto: André)

O colapso do gelo acontece várias vezes durante o dia, em uma narrativa que deixaria Hitchcock feliz – primeiro as pequenas fraturas, alguns tocos de gelo que se desprendem, granadas de boas vindas para o lago; lentamente, a ponta verga para frente e o desequilíbrio gravitacional vai se tornando crítico; e então todos nós ficamos em suspense, o ar se torna irrespirável à espera do momento fatal, que, quando acontece, é comemorado por urras de orgasmos dos turistas.

Vista das passarelas de Perito Moreno (Foto: Ge).


Ficamos mais de seis horas olhando a maravilha. Filmamos, fotografamos e suspiramos à exaustão. A Lili chegou até a chorar e a Ge gritou muito, mas foi por conta de uma aranha que entrou dentro da capa corta-vento da Lili. Nada grave – foi morta, mata!, mata!, mata!, a pisadas sem piedade.

A cerveja de grama de El Calafate (Foto: André).


Depois de um dia idílico, voltamos para Calafate e entramos em uma casa de chá vegetariana natureba. Tinha cerveja de grama (que provei e estava ruim) e suco de terra com beterraba (que a Fran não gostou). Vegetarianos sofrem na Argentina, o país mais carnívoro do mundo – estamos há duas semanas por aqui e o brócolis ainda não deu as caras. O cardápio da casa de chá tinha toques fundamentalistas, terminando com uma frase de Einstein (que muito provavelmente Einstein nunca teria dito ao vivo, mas aparece nas correntes da Internet) afirmando a superioridade dos vegetarianos. Minorias à parte, o mais normal para os hermanos são programas como o Sheep Show, disponível e alardeado aos quatro ventos em Calafate. O Sheep Show é um dia com os carneiros. Você passa o dia em uma estância, conhece as diversas espécies de carneiro, faz a tosa em um deles, dá mamadeira para os filhotinhos e, para o gran finale, um belo banquete de cordeiro patagônico. As meninas acharam o programa meio grotesco e acabamos não indo – de minha parte, achei que era algo genuinamente argentino, muito mais que a casa de chá. Depois de dar mamadeira para os cordeiros, que tal um asado de tira, em que os carneiros ficam estirados, tal como Jesus Cristo, na beira da brasa da lenha?

Saímos do bar natureba para um passeio que a Fran e a Lili queriam fazer: conhecer um viveiro de flores da Patagônia. Elas passaram umas três horas conversando com a simpática Marta, que cuida do lugar – deu tempo para eu tirar uma soneca dentro do carro e ainda ler uns dois capítulos do Guerra e Paz. Pra fechar o dia, cordeiro, claro, num ótimo restaurante de Calafate, o lechuga.

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