26/12/2014
Foz do Iguaçu – Santa Fé
Desde
o planejamento da viagem, nós sabíamos que este seria o pior dia, com mais de asfixiantes
1000km pela frente. Há sempre um (ou mais de um) dia de perrengue neste tipo de
viagem. Normalmente fica no começo, perto do Brasil, porque não há muito para
se ver. Mas há outros detalhes que complicam as coisas no início: é uma região
tropical e úmida que, no verão, chove torrencialmente. É também uma região
famosa por guardas corruptos. E, finalmente, é uma região sem estradas muito
vazias – a proximidade com Foz e Buenos Aires faz com que o trânsito seja
bastante diferente da Patagônia, por exemplo. Nesta viagem, nós tivemos que
enfrentar tudo isto. E mais um pouco.
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Eba! |
O
dia começou com uma reunião do conselho. Esperar ou não esperar as casas de
câmbio de Foz abrirem. Se esperássemos, sairíamos mais tarde e chegaríamos à noite em Santa Fé – porém, conseguiríamos um câmbio bem mais em conta. Há uma diferença
absurda entre o câmbio oficial (que só o governo argentino e o seu cartão de
crédito aceitam) e o câmbio no paralelo. O bolso pesou na decisão, mas a decisão foi
acertada – o câmbio oficial (peso/real) está em 0,31. Nas casas de câmbio de
Curitiba, com cartão travel card, sairia 0,38, mais IOF, um roubo. Nós
compramos por 0,23. Eu, que tinha dólares comprados antes da eleição, consegui
excepcionais 0,19. Não é nada não é
nada, mas a viagem fica 30% mais barata, no mínimo. Só teve um porém – a casa de câmbio, a
única que achamos aberta no dia 26, em Foz, nos passou três notas de 100 pesos
falsas. Mas estamos tão escolados e diplomados em viagem na Argentina que já
sabemos identificar até nota falsa – eu tenho uma na carteira (que recebi na
fronteira de Barracão e um restaurante de Humahuaca se recusou a aceitar)
justamente para comparar com o que nos entregam. O funcionário da casa de
câmbio trocou as notas falsas sem reclamar, em um silêncio constrangedor – não
se deu nem ao trabalho de fazer um teatro de, puxa vida, é falsa? Que horror, né? Obviamente, sabia que estava nos entregando dinheiro podre.
Mas
o que é bom (dinheiro barato, neste caso) tem seu preço. Chegamos às 11h
da noite em Santa Fé. O trânsito, na estrada, estava relativamente tranquilo
(se compararmos com a viagem da Patagônia, em 2012, estava estupidamente
tranquilo) – mas, depois de comprar o câmbio, aguardamos, somadas as filas,
mais de uma hora na aduana e no primeiro posto de gasolina da Argentina. Já era
umas 10h da manhã quando começamos a viajar.
Ainda
na província de Entre Rios, um guarda em um posto policial no meio do nada
parou o nosso carro. A Fran estava dirigindo. Ele fez sinal para abrir o vidro.
Perguntou se era a primeira vez na Argentina – é tipo uma pergunta teste pra
saber se estamos cientes da legislação obrigatória (segundo triângulo, carta
verde, cabo de reboque, luz acessa na rodovia). Não, moço, nós já sabemos
identificar até nota de Peso falsa. Estão a passeio? Sim, vacaciones. O cara já
tinha manjado que não havia nada de irregular e estava diante de profissionais.
E, na cara dura, sem nenhum tipo de explicação, não tem nenhuma contribución para nosotros? A Fran deu 12
pesos – R$2,40. O sujeito aceitou e a Lili até ficou com pena – parecia mais um
pedinte que um policial.
Até
Posadas, tudo foi bem. Mas, cerca de 250 km antes de chegar em Paraná, já era
noite e caiu uma tempestade dos infernos. Em todo o trecho, pequenos sapos, aos
milhares, estavam saltitantes no asfalto – pontos brancos que brilhavam com a
luz do farol e o reflexo da água da chuva. Neste dia, oficialmente, matamos
centenas de projetos de anfíbios. Los assassinos de sapos.
Foi
o dia também que a Fran testou o Oi Girl. Hã, como explicar o Oi Girl? Lembro
do dia que liguei para a Acampar e perguntei para a atendente se eles tinham. A
moça não sabia o que era e eu precisei, com constrangimento, explicar. Bem,
moça, é um, hã, dispositivo (dispositivo?) de silicone que permite que a mulher
faça xixi em pé. Ou, em bom português, um pinto de plástico que a mulher acopla
na virilha – excelente para a hora do aperto em banheiro sujo de postos de
gasolina. E, bem, como a Fran se saiu? Eu achei que alguma coisa tinha saído
errado depois de ela demorar mais de meia hora no banheiro e ter entrado com
uma saia e ter saído com uma bermuda. Creio que a coisa exige um certo
treinamento – mas a Fran está confiante para as experiências futuras.
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Chegada no hotel em Santa Fé. A Fran já de bermuda. |
Chegamos
no hotel bem cansados. Mas amanhã tem só estrada boa até Mendoza. A paisagem
melhorará bastante – vamos chegar nos Andes.
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