Dia
1 – Curitiba – Barracão 600km
13/06/14
Adiantando
tudo, correndo como loucos (a Fran ainda enfrentou um dia dos namorados na
joana joaninha!), conseguimos sair um dia antes. Parece simples, mas só parece –
depois de quatro viagens para os Andes, o nosso check list já passa dos 110
itens. Providencial sair antes: ao invés dos cansativos 1200km de Curitiba a
Resistencia, que eu e a Fran já fizemos duas vezes, uma parada antes em
Barracão – 600km a menos.
Na
viagem, tudo normal: o Brasil continua sendo um lugar tenso e estressante para
viajar de carro. Pista simples na maior parte do tempo – o que não é
necessariamente um problema, mas acaba sendo quando a estrada é apinhada de
caminhões e cheia de curvas. Um adicional: por conta das enchentes, parte da
estrada entre Guarapuava e Pato Branco estava interditada e precisamos fazer um
desvio em Mangueirinha, o que, com a meia pista e as esperas, nos custou pelo
menos uma hora a mais na estrada. Quando que eu achei que iria conhecer
Mangueirinha? Quando que alguém achou que ia conhecer Mangueirinha? É preciso
uma tragédia na cidade vizinha para Mangueirinha comece a aparecer nos mapas.
Em outras palavras: a cidade não existe.
Com
o desvio, conhecemos uma das represas da Copel que, depois das chuvas intensas,
estava com o vertedouro aberto – um espetáculo, uma força descomunal das águas.
Como a estrada passa muito próxima do vertedouro (passa na parte de cima da
barragem!), acaba sendo mais impactante que Itaipu.
Vertedouro da Copel |
No
final do dia, um imprevisto. Depois de mais de 500km de céu de brigadeiro,
justamente ao anoitecer, uma tempestade de raios. E uma chuva com ventos fortes
chegou nos últimos 40km da viagem. Sorte que já estávamos nos finalmentes, mas
assusta, dá uma forcinha para o Red Bull funcionar melhor e chegarmos acordados
no fim do dia.
Chegamos
em Barracão às 19h – 9h para fazer 600km. Na Argentina, é fácil dar conta dos
mesmos 600km em 6h. Chegamos no hotel e o recepcionista estava feliz com a
vitória da Holanda sobre a Espanha – acachapantes 5X1! É placar de pelada de
praia, não de Copa do Mundo.
Fran no quarto do hotel. |
Finalmente,
o quarto do hotel, o primeiro. E eu sempre me lembro daqueles quartos do
Hopper, daqueles personagens tão sozinhos, tão livres, tão modernos. Impressão
pessoal: Hopper é o grande pintor norte-americano. Warhol é meio óbvio pra mim,
aquelas latas de Coca-Cola, a cultura do consumo escancarada – não sei, tenho
certa implicância, parece que falta sutileza. Pollock tem beleza plástica
incomparável, mas o que se diz parece que não se lê. Hopper é uma escolha mais conservadora,
eu sei, mas, ainda assim, essencial: a América não é o sintoma do consumo nem a
apologia da abstração. Em Hopper, a América é o sintoma do vazio, daquela
solidão transcendente das escolhas individuais, o homem livre das tradições. O
tema da viagem é um segundo plano constante em Hopper: o posto de gasolina, o
hotel, o café, o bar – as pessoas não
moram, estão de passagem, estão em trânsito. Os vínculos são menos importantes
que as escolhas.
Quarto de hotel - Hopper |
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