Dia 17 e 18 - 07 e 08/01/2012
Testando limites
Ovelhas na estrada: um dos muitos contratempos em dois dias lazarentos de viagem. (foto: Ge) |
Uma diferença entre viajar de
carro e de avião é que a volta não está programada para um dia, mas para vários
– em um tiro longo, voltar também pode significar testar limites de
resistência.
No roteiro original, a pedreira
mais complicada de toda a viagem estava reservada para os dias 7 e 8 de
janeiro, cada um deles com cerca de 950km. São dias inteiros dentro do carro –
é cansativo, às vezes monótono, e quase sempre abastecido por comida ruim –
bolacha, sanduíche, torradas, só porcaria. Você sente saudades de usar um garfo
e uma faca.
Até aí tudo bem, cansativo já
estava previsto. Mas o que passamos não estava previsto. Depois de finalmente
conhecer a estrada de acesso a Ushuaia (na ida, estávamos com pouca luz e não
foi possível admirar as florestas, lagos e montanhas nevadas que circundam as
cercanias da cidade), voltamos para o pesadelo das aduanas. Estava pior do que
na ida, com mais filas intermináveis e mais burocracia inútil. Para aporrinhar
mais, tivemos de esperar 500 ovelhas atravessarem a estrada (as meninas acharam
isto bonitinho), manobradas por cães pastores e dois gaúchos fueguinos. Isto tudo
fez com que só chegássemos em Puerto San Julián quase 2h da manhã. 17h de chão
vencido (pelo menos 6h disto em malditas aduanas). E, no dia seguinte, ainda
precisaríamos de mais 950km.
Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Fran) |
O que não esperávamos é que San
Julián, tão aprazível e hospitaleira na ida, estivesse lotada – isto não seria
difícil, uma vez que é um vilarejo minúsculo. Nossa primeira tentativa foi o
Hotel Bahia, o mesmo da ida. Nada. E o gerente ainda nos alertou que
provavelmente não conseguiríamos vaga na cidade. Não tínhamos fôlego,
disposição, vontade pra mais tempo na estrada, para buscar hotel em outra
localidade.
Estrada que dá acesso a Ushuaia (foto: Ge) |
Começamos então a peregrinação
dos hotéis. Vários deles já com o cartaz na porta, “completo”. Outros, depois
de tocarmos uma campainha, um senhor muito mal humorado, recém acordado às 2h30
da manhã, vinha nos dizer que não havia mais quartos. E agora? Depois de rodar
pelos quatro cantos, ou melhor, pela única avenida principal de San Julián,
decidimos que “dormiríamos” no carro. O mais seguro, talvez, fosse deixar no
posto de gasolina 24h. Chegamos ao YPF e o frentista, “claro que podem, fiquem
com os demais carros”. O estacionamento do posto estava com mais 10 hotéis
motorizados improvisados, argentinos e chilenos, famílias, casais, motoristas
solitários estavam “dormindo” ali.
A luz do posto era forte e, com
a prática da gambiarra, duas cortinas: o pára-sol do carro e uma canga de
estampa indiana da Ge, que foi estendida em uma das laterais do carro – só
faltou o frango com farofa. Eu, mais alto, fiquei no banco do passageiro e,
atrás de mim, a Ge, espremida como um casulo, as duas pernas no banco, uma capa
cobrindo tudo, tentava cochilar. A Fran, que ficou no banco do motorista, não
se acomodava com a direção, virava de um lado e de outro, nada, saiu várias
vezes para esticar as pernas doloridas, que formigavam. Já a Lili, bem, a Lili,
mesmo com os nossos sons de abre e fecha porta, mesmo com o barulho infernal da
minha capa de nylon, mesmo com o assobio assustador dos pombos da garagem ao
lado, dormia com a boca aberta e já babava há tempos.
Às seis da manhã (o sol havia
nascido às 4h), todos já devidamente alongados, partimos para Esquel. Foi uma
viagem dura, cansativa, lazarenta, com um vento lateral ainda pior do que nos
dias anteriores. As rajadas eram de tal magnitude que fiquei preocupado com o
equilíbrio do carro com o bagageiro de teto (motoqueiros brasileiros haviam
dito que viram jipes capotarem em Puerto Madryn por conta do vento) e preferi
sentar no lado que recebia o vento para equilibrar a estabilidade. Diminuíamos
a velocidade, víamos bolas de feno passarem à nossa frente como nos filmes de
faroeste, apreensão. Não nos desesperamos porque não tínhamos forças para isto.
Nem tempo.
Chegamos próximo das 20h em
Esquel, fedidos, gordurentos, empoeirados. Quando o destino da viagem estava
próximo, como sempre acontece, o GPS mostrou uma bandeirinha quadriculada e
fizemos um coro animado e alucinado, “bandeirinha, bandeirinha, bandeirinha!”.
Batemos palmas, give me five, risadas lunáticas. Mais um pouco nos internavam.
Felizmente, Esquel é uma graça,
barata, achamos um ótimo hotel fácil, boa comida e desmaiamos.
André e Fran!
ResponderExcluirque delícia! mesmo com imprevistos!
tamos na praia! agora meu pai arranjou uma internet que funciona, heheheh!
ele quer saber quando vcs voltam! e o joão avisa que comprou 15 garrafas de vinho em puerto iguazu e quer beber algumas com vcs!
beeeeijo! e feliz 2012!
Aninha, salve!
ExcluirEstamos no Uruguai, em Colônia. Amanhã Montevideo, depois Santa Cruz, depois Curitiba - estamos terminando. Claro que vou querer algumas destas garrafas do João (ahá!), mas por enquanto estou me recuperando de uma indigestão - está tudo bem, depois conto tudo.
Beijos,
André e Fran
André, viva!
ResponderExcluirFotos, como sempre, sensacionais!
Agora precisam voltar logo pra contar em detalhes, aqui na nova varanda de Caravelas!
Abração, bom retorno!
Tovo
Tio Tovo, salve!
ExcluirDaqui alguns dias já estaremos na nova varanda da praia, nos aguardem! Abração e até breve,
André