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Primeiro encontro com os Andes, estrada rumo a El Chaltén. |
Dia 10 31/12/2011 Primeiro
encontro com os Andes
O último dia do ano começou com
um récorde: o café da manhã mais cedo da viagem – antes das sete já estávamos
no restaurante do Hotel Bahia. Meia luas (croissants), café fraco, doce de
leite e uma breve discussão com o recepcionista do hotel que quer nos enrolar
com o fechamento de conta. Malas no bagageiro e estamos prontos para outro dia
puxado: até El Chaltén, no coração do Parque Nacional los Glaciares, serão mais
800km.
A viagem poderia ser bem mais
curta – a rodovia com asfalto vai ao sul e depois volta novamente para o norte.
Chaltén está quase na mesma latitude que San Julián, mas a única estrada que
simplesmente aponta para o oeste e se encontra com os Andes é de rípio, uma
mistura de pó e pedras de tamanhos variados que costuma detonar carros de
passeio. Como não estamos de jipe, optamos pelo asfalto, passando por Rio
Gallegos.
O dia trouxe uma série de
figurinhas novas para o nosso álbum. Pela primeira vez nos encontramos com o
frio que sopra da Antártida – até então só estávamos usando roupas de verão.
Também nos deparamos com o verdadeiro vento patagônico – o que nos obrigou a um
certo ritual na hora de fechar e abrir as portas do carro. Parece piada, mas
nos relatos disponíveis na Internet, houve gente que perdeu as portas por conta
do vento. Agora, abrir portas exige um procedimento de guerra, com atenção
redobrada e duas mãos na maçaneta. Finalmente, somente agora nos encontramos
com os Andes – a paisagem ocre semi-desértica, sem árvores, que domina quase
toda a patagônia, dá espaço para o verde, a neve e a neve derretida (rios
transparentes e os lagos azul turquesa, ambos de temperaturas proibitivas para
banho), sem contar a espetacular e imponente cadeia de montanhas.
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Lili observa a paisagem da Patagônia. (Foto da Fran). |
Entramos na província de Santa
Cruz e o percurso foi tranquilíssimo, com estradas solitárias e boas. A
economia de Santa Cruz gira em torno do petróleo e seus habitantes são
conhecidos no resto da Argentina como los
pinguinos. Nestor Kirchner (quando vivo) e a viúva de botox vencido,
Cristina Kirchner, são pinguinos.
Antes das 18h já estávamos em El
Chaltén, para curtirmos o nosso ano novo. Estive aqui em 1996, em uma viagem
com o amigo de faculdade Bob Marochi. Quinze anos atrás, a estrada até Chaltén
era de rípio e não havia nada na entrada do parque, exceto uma zona de
acampamento, onde nós, com muito orgulho, armamos a nossa barraca e fizemos o nosso miojo. Hoje, o
acesso é todo asfaltado e a planície da entrada do parque, se ainda não virou
uma cidade, é questão de tempo – já é um pequeno povoado, com dezenas de
hotéis, restaurante e pequenas lojas.
Para o nosso réveillon, passamos num
supermercado La Anónima em uma cidade perdida de beira de estrada e compramos
suprimentos para um queijos e vinhos patagônicos. Em verdade, nossa noção de
tempo, com uma mudança tão brusca do dia-a-dia com que estamos acostumados,
fica suspensa e mal sabemos se é sábado ou segunda-feira, se é dia 20 ou 31 –
comemorar o ano novo nos parece até estranho, estamos em outro calendário.
No hostel que ficamos, havia uma
ceia preparada, mas resolvemos fazer no nosso próprio quarto: uma barulhenta multidão
de mochileiros de todas as idades (inclusive muitos atléticos velhinhos europeus),
que ouvia música ruim brasileira por conta de meia dúzia de farofeiros da
terrinha que estava bêbada e feliz azarando as alpinistas holandesas, não nos
pareceu convidativa. Tomamos o último banho do ano, tiramos a última soneca do
ano, fizemos a contagem regressiva e desmaiamos.
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