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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012


Primeiro encontro com os Andes, estrada rumo a El Chaltén.
 
Dia 10 31/12/2011 Primeiro encontro com os Andes

O último dia do ano começou com um récorde: o café da manhã mais cedo da viagem – antes das sete já estávamos no restaurante do Hotel Bahia. Meia luas (croissants), café fraco, doce de leite e uma breve discussão com o recepcionista do hotel que quer nos enrolar com o fechamento de conta. Malas no bagageiro e estamos prontos para outro dia puxado: até El Chaltén, no coração do Parque Nacional los Glaciares, serão mais 800km. 

A viagem poderia ser bem mais curta – a rodovia com asfalto vai ao sul e depois volta novamente para o norte. Chaltén está quase na mesma latitude que San Julián, mas a única estrada que simplesmente aponta para o oeste e se encontra com os Andes é de rípio, uma mistura de pó e pedras de tamanhos variados que costuma detonar carros de passeio. Como não estamos de jipe, optamos pelo asfalto, passando por Rio Gallegos.

O dia trouxe uma série de figurinhas novas para o nosso álbum. Pela primeira vez nos encontramos com o frio que sopra da Antártida – até então só estávamos usando roupas de verão. Também nos deparamos com o verdadeiro vento patagônico – o que nos obrigou a um certo ritual na hora de fechar e abrir as portas do carro. Parece piada, mas nos relatos disponíveis na Internet, houve gente que perdeu as portas por conta do vento. Agora, abrir portas exige um procedimento de guerra, com atenção redobrada e duas mãos na maçaneta. Finalmente, somente agora nos encontramos com os Andes – a paisagem ocre semi-desértica, sem árvores, que domina quase toda a patagônia, dá espaço para o verde, a neve e a neve derretida (rios transparentes e os lagos azul turquesa, ambos de temperaturas proibitivas para banho), sem contar a espetacular e imponente cadeia de montanhas.

Lili observa a paisagem da Patagônia. (Foto da Fran).


Entramos na província de Santa Cruz e o percurso foi tranquilíssimo, com estradas solitárias e boas. A economia de Santa Cruz gira em torno do petróleo e seus habitantes são conhecidos no resto da Argentina como los pinguinos. Nestor Kirchner (quando vivo) e a viúva de botox vencido, Cristina Kirchner, são pinguinos.

Antes das 18h já estávamos em El Chaltén, para curtirmos o nosso ano novo. Estive aqui em 1996, em uma viagem com o amigo de faculdade Bob Marochi. Quinze anos atrás, a estrada até Chaltén era de rípio e não havia nada na entrada do parque, exceto uma zona de acampamento, onde nós, com muito orgulho, armamos a nossa barraca e fizemos o nosso miojo. Hoje, o acesso é todo asfaltado e a planície da entrada do parque, se ainda não virou uma cidade, é questão de tempo – já é um pequeno povoado, com dezenas de hotéis, restaurante e pequenas lojas.

Para o nosso réveillon, passamos num supermercado La Anónima em uma cidade perdida de beira de estrada e compramos suprimentos para um queijos e vinhos patagônicos. Em verdade, nossa noção de tempo, com uma mudança tão brusca do dia-a-dia com que estamos acostumados, fica suspensa e mal sabemos se é sábado ou segunda-feira, se é dia 20 ou 31 – comemorar o ano novo nos parece até estranho, estamos em outro calendário. 

No hostel que ficamos, havia uma ceia preparada, mas resolvemos fazer no nosso próprio quarto: uma barulhenta multidão de mochileiros de todas as idades (inclusive muitos atléticos velhinhos europeus), que ouvia música ruim brasileira por conta de meia dúzia de farofeiros da terrinha que estava bêbada e feliz azarando as alpinistas holandesas, não nos pareceu convidativa. Tomamos o último banho do ano, tiramos a última soneca do ano, fizemos a contagem regressiva e desmaiamos.

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