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Trabalho com lã de alpaca, no modo antigo. |
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Habilidade. |
O
dia começou mais cedo. Preparamos mochilas para dormir em Aguas Calientes, o
vilarejo base para conhecer Machu Picchu e deixamos as malas no hotel. Grimaldi
nos busca e começamos o passeio em Chinchero, onde comprei um milho cozido
espetacular, de grãos brancos e graúdos. Com mais um furo no nosso boleto
turístico (um passe obrigatório para visitar a maior parte das atrações
próximas de Cusco), entramos em novas ruínas e passamos por uma igrejinha,
também construída sobre templos incas. Em chinchero, também conhecemos peruanas que fazem artesanato de alpaca à moda antiga, tudo como os índios faziam: da lavagem da lã ao tingimento dos tecidos. As meninas piraram com as explicações. Mas não gostaram dos preços.
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Um homem feliz com um autêntico milho cozido peruano. |
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Chinchero. |
De
Chinchero, nas estradas espetaculares do Valle Sagrado, chegamos nas Salinas,
onde uma gigantesca extração de sal, usada desde os incas, cobre toda uma
montanha. São piscinas brancas, que, por meio de canais estreitos, vão sendo
preenchidas de água salgada que, com a evaporação, se transformam em puro sal.
A estrada para Salinas é uma faixa estreita de terra que margeia precipícios –
como o fluxo de turistas é grande, está apinhada de ônibus, vans, táxis,
caminhonetes e carros. Volta e meia, como aconteceu conosco, o fluxo emperra,
porque não há espaço para o fluxo da ida e da volta. Então, alguém que está
subindo ou descendo precisa dar ré até encontrar um espaço para a passagem.
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A feiura do Vale Sagrado. |
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Não é horrível? |
Grimaldi
é bastante prudente ao volante, cordial (o que é uma raridade em se tratando de
motoristas peruanos), mas não tem a melhor das destrezas e estava estressado
quando precisou dar ré. O trânsito é o caos no Peru – as pessoas não só são
estressadas, mas também calhordas ao volante. Se você intenta entrar na sua
frente, porque precisa virar à esquerda na próxima quadra, não só ninguém vai
dar passagem, como vão fazer de tudo para que não seja possível a sua vontade.
É selvagem, truculento, com altos níveis de testosterona. Grimaldi sofreu com a
ré e o motorista de um dos ônibus gritou o suficiente para provar toda a sua
estupidez.
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Minha mãe disse para eu pedir dois soles. |
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Salinas. |
Das Salinas,
almoçamos em Urubamba. Grimaldi nos diz que só há restaurantes buffet na cidade
– não sei se é verdade, mas onde ele nos levou era onde ele não precisava
pagar, certamente um esquema das agências. O lugar tem comida mais ou menos e a
g não quis comer. No fundo do restaurante, um índio, em pé, faz música ruim ao
vivo. A música peruana é legal até um momento, até o segundo ou terceiro dia de
viagem – depois de quase duas semanas escutando a mesma coisa, a mesma
flautinha, as mesmas escalas, as mesmas melodias, você descobre por que esta é
a música que você só escutaria voluntariamente aqui – a música brasileira é
infinitamente melhor, em qualquer critério de comparação, e, por isto, ao
contrário da peruana, é exportada. Hordas de turistas vão chegando ao
restaurante e o lugar não tem nenhum apelo realmente autêntico.
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Eu adoro heavy metal, sabe. |
Grimaldi,
durante o almoço, esclarece que não iremos mais para Moray, mais terrazas e
ruínas incas – para o desespero da g, que queria ver esta ruína mais do que as
demais. Depois de muita conversa, ponderando sobre o tempo restante e sobre o horário
da nossa saída de trem para Aguas Calientes, decidimos fazer Moray. São
círculos concêntricos, com diferentes microclimas, e presume-se que aqui era
uma espécie de laboratório agrícola para os incas.
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Pessoal tenso para não perder o trem para Aguas Calientes. |
De
Moray, partimos para Ollantaytambo. É a última cidade do vale sagrado – daqui,
pegamos o trem para Machu Picchu. Ollantaytambo também tem ruínas incas – elas
são bem impressionantes, com uma escadaria que lembra as pirâmides e, como fica
no final do vale, circundada por um anfiteatro de montanhas. Não bastasse isto,
é um vilarejo muito charmoso – talvez o mais charmoso de todo o Valle Sagrado.
É um lugar para voltar e dormir – andar pelas ruelas, conhecer os locais,
visitar com calma as ruínas. No nosso caso, como já estávamos no final da
tarde, tivemos pouco tempo para contemplar, mas o suficiente para observar a
última tecnologia inca contra terremotos: a união de paredões de pedras com
pedras estreitas e compridas.
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Tecnologia inca contra terremotos. |
Comprei
bastões de esqui para a Fran, tomamos um último café na ladeira da estação de
trem e, já noite, partimos para Aguas Calientes. No trem, conhecemos parte de
um grupo de sete mulheres mineiras que estão viajando desde a Bolívia – todas
simpáticas e animadas.
Quando
chegamos em Aguas Calientes, para a nossa alegria, o hotel fica em frente ao
trilho e, mais do que isto, o Casa Andina é excelente. Para completar, o hotel,
de cortesia, nos deu um quarto superior – sorteamos entre nós e, graças ao bom
deus sol inca, eu e a Fran ficamos com ele. A diferença de quarto era grande:
maior, com ar-condicionado e vista para o rio caudaloso e pedregoso que passa
ao lado. Fizemos nossos planos para amanhã: Machu Picchu.
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