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Monumento Nacional à Bandeira |
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Pichação anarquista no Monumento Nacional à Bandeira |
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Dia 3 24/12/2011 Natal em Rosario
Teremos mais uma passageira a
partir do dia 27. A amiga Geísa, o querido anjo cupido meu e da Fran, embarca
na jornada a partir de Puerto Madryn. Viajar de carro com mais gente é sempre
interessante: mais companhia (isto não é necessariamente bom, um mala estraga
qualquer passeio, sorte que a Geísa é do bem), mais divisão dos gastos de
pedágio e gasolina, sem contar que é um motorista a mais para o revezamento do
volante, recurso imprescindível em um roteiro de mais de 10.000km. O único
porém é o espaço – nosso bagageiro está no limite. A mala da Geísa vai caber,
mas onde ficarão as comprichtas? Onde levaremos as nossas caixas de vinho e a
muamba da zona franca de Ushuaia?
Nosso dia de descanso em Rosario
começou com uma missão: resolver o problema da bagagem. Tínhamos duas opções:
jogar fora as nossas roupas (usar a cueca mais vezes por semana vale mais a
pena do que deixar de levar o vinho) ou comprar um bagageiro de teto. Ficamos
com a segunda opção – até porque o bagageiro, assim como quase tudo por aqui,
continua saindo mais barato que no Brasil.
Com a indicação do dono do hotel,
chegamos à loja Auto Deluxe. Era pra ser uma compra tranquila. Era. Mas o
Fernando, proprietário, fez de tudo para que quase o mandássemos para a santa
madre que o pariu. Sujeito confuso, jeito junk de lidar com as pessoas – fala
rápida, muda de assunto, atende outro cliente, volta, muda o preço do que havia
sido acertado antes, olho estatelado, embrutece quando dizemos que somos do
Brasil (mesmo eu argumentando que a Fran torce para a Argentina – não menti), só
nos restava a agonia e o cheiro da trapaça.
A operação de colocar o bagageiro
no teto, que consiste em apertar quatro parafusos sem chave fenda, exigiu mais
tempo e atenção do que lançar um ônibus espacial da Nasa. Mas, depois de muita
enrolaração – perdemos a manhã – vencemos o sujeito. E saímos para curtir
Rosario.
Assim como na nossa última viagem,
Rosario nos surpreendeu positivamente. Não é um destino tradicional dos
brasileiros, mas, ainda que não seja um local para passar muitos dias (no final
das contas, é uma cidade não muito grande, de 1.200.000 habitantes), vale a
pena conhecê-la. São muitos os atrativos: uma arquitetura art noveau
remanescente do final do século XIX (quando a cidade era a maior produtora de
grãos do mundo, o que acabou trazendo um crescimento explosivo para a região),
uma importante zona portuária às margens do Rio Paraná, uma linda avenida
costanera (a rambla de Rosario, com inúmeros bares e restaurantes com pescados
típicos de rio), e duas ruas de pedestre com ótimo comércio (assim como as
demais cidades argentinas, inclusive Buenos Aires, aqui não é o paraíso dos
shoppings, mas o do mercado de rua).
Almoçamos no Carlitos, um ótimo
restaurante na margem da costanera, em frente a uma prainha em que navios de
porte cruzam o tempo todo e jovens musculosos sky-surfeiros (Sky-surf? É aquela
prancha arrastada por uma pandorga gigante) se exibem para o suspiro das mocinhas rosarinas. No Carlitos,
experimentamos o Dourado e a Bodega (ambos peixes do rio Paraná) grelhados.
Estava excelente, ainda mais com o molho caseiro de chimichurry que o
acompanhou (e eis uma descoberta: chimichurry vai muitíssimo bem com peixe
também!).
Depois do almoço, andamos pelo
centro histórico e percorremos as escadarias do Monumento Nacional à Bandeira.
O Monumento, ainda que seja elegante e de arquitetura bem resolvida, é um
espaço mega patriótico e ultranacionalista, com dezenas de bandeiras argentinas
perfiladas, uma pira acessa com os restos mortais do General Belgrano (o d.
Pedro I da Argentina), vigilância de soldados do exército, enfim, o lugar perfeito
para um inspirado anarquista desrespeitar a solenidade do mármore bruto e pichar
em azul-bandeira-da-argentina “me cago en tu bandera”. Fechamos o passeio com
uma caminhada nas ruas de pedestres, com direito ao primeiro sorvete hermano da
temporada e a comprichtas para a floricultura da Fran e da Lili. Como o dia
seguinte será puxado – mais 1.000km – resolvemos não sair para jantar uma ceia
de Natal decente e optamos por comprar um x-salada do bar da esquina do hotel.
Bem alimentados, sem festa natalina (o que, convenhamos, é ótimo), desmaiamos.